Qual a hierarquia das causas?
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Qual a hierarquia das causas?


Você já ouviu falar de alguma lista que hierarquize as causas por prioridade?

Eu nunca! Porém conheci muita gente que se acha no direito de julgar o que o outro faz com seu tempo, dinheiro e dedicação. E usam esse pretexto para, de alguma forma, tentar diminuir tal feito mostrando que existem “causas mais nobres e verdadeiramente importantes”, geralmente citam as crianças abandonadas...

Pra mim, a verdade é que a luta de um exalta a inércia do outro.

Muita gente se incomoda em ter do lado quem faz algo no mundo além de existir, e passa então a criar a tal “lista de prioridades”, principalmente quando falamos em animais. Porém nunca ouvi uma pessoa me dizer: “olha eu dedico minha vida para trabalhar num orfanato, porque acho que crianças abandonadas sofrem mais” ou então “eu trabalho com doentes mentais, porque você não vem um dia trabalhar comigo para conhecer as necessidades?”.

A pessoa que critica o trabalho voluntário por uma causa, normalmente, é aquela que se julga superior ao semelhante, não atua em nenhuma causa e atribui a si um valor que jamais terá.

Ultimamente uma grande campanha envolveu muitos amantes dos animais no país. Ela foi iniciada em Janeiro com a Manifestação Crueldade Nunca Mais, que juntou cerca de cem mil pessoas, em mais de duzentas cidades brasileiras. Todos unidos contra a onda de crueldades com animais que assola o país. Em seguida o mesmo movimento “Crueldade Nunca Mais” uniu novamente a população numa campanha para que a Comissão de Juristas para a Reforma do Código Penal Brasileiro mantivesse os maus tratos contra animais na condição de crime, e ainda aumentasse as penas. Em dois meses conseguimos cerca de cem mil assinaturas numa petição online, e outras oitenta mil assinaturas físicas.

E mais uma vez a tal “lista de prioridades” foi invocada aos quatros cantos, pelos que se julgam no direito de arbitrar a vida do outro.

É claro que é muito importante punir rigorosamente a pedofilia, o abandono de incapaz, etc., e para isso, para lutar pelos direitos humanos, existe uma infinidade de ONGs e grupos que devem ter se unido para lutar pela sua causa junto à comissão de juristas que elaborou o anteprojeto do Código Penal. As penas para estes crimes foram aumentadas também.

A luta por punição para quem comete crimes de maus tratos e abandono contra animais não atrapalhou, ou impediu, que os juristas tivessem aumentado as penas para os crimes contra humanos.

Uma causa não atrapalha a outra!

Existem grupos que lutam pelos direitos humanos: contra pedofilia, aborto, homofobia, racismo, etc.. Existem grupos que lutam pelo meio ambiente: contra o desmatamento, a poluição, manutenção de ecossistemas, etc.. E existem grupos que lutam pelos animais: contra a crueldade a que são submetidos, por políticas públicas, por maior penalização para crimes cometidos contra estes seres indefesos, etc.. 

Ninguém tem o direito de impor ao outro a causa pela qual deve lutar!  

O caso de um cão espancado até a morte, ou arrastado pelo seu dono num carro, pode sim sensibilizar milhões de pessoas ao ponto delas clamarem por maior punição para quem comete tal crueldade.

Onde está escrito que se punirmos quem comete estes crimes, deixaremos de punir quem comete crimes contra humanos? Quem falou que uma causa é condicionante da outra?

No mundo todo é cada vez maior a busca da conscientização das populações com relação aos direitos dos animais, contra as crueldades a que são submetidos. Não punir quem comete atrocidades contra animais seria o mesmo que considerar isso conduta aceitável. O movimento de defesa dos animais enxergou na Reforma do Código Penal a oportunidade para que as penas fossem aumentadas, e lutamos bravamente por isso, mas em nossa luta não havia o discurso hierarquizado de que os animais são mais importantes do que humanos. Não, os animais são nossa causa. Lutamos pelo que dedicamos a vida e conseguimos, assim como os grupos das causas humanitárias, aumentar as penas.

O clamor da população é por punição rígida para quem comete crimes contra animais, assim como para quem abandona incapaz, assim como para pedófilos, assim como para assassinos cruéis, assim como para quem desmata florestas ou polui o meio ambiente, assim como para político corrupto, etc.. 

O clamor da população é por justiça. As pessoas já não suportam conviver com a impunidade, seja em crimes contra humanos, ou contra os indefesos animais.

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