Animais
por Mayra Felício de Lima
Há mais de dois anos o jornal britânico Telegraph publicou um artigo falando sobre as pesquisas realizadas por estudiosos suecos nas quais foi possível constatar que a agilidade física e mental de algumas raças de cães está diminuindo e sofrendo alterações de comportamento. Por serem escolhidos por causa de sua aparente docilidade e graciosidade e tratados como verdadeiros bibelôs pelos seus donos, os animais apresentaram redução de sua inteligência e capacidade de reação.
Tais informações foram comprovadas pelo Dr. Kenth Svartberg, estudioso da Universidade de Estocolmo, que afirma que essas mudanças ocorram ao longo de algumas gerações caninas e que alteraram o comportamento e as habilidades mentais de raças com pedigree e de cães reprodutores, bem como as suas características físicas. Svartberg examinou 13 mil cães avaliando as mudanças comportamentais em 31 raças diferentes. Ele descobriu que aqueles animais criados de acordo com a aparência - sobretudo os bichinhos que integram shows de exibição de raças e exposições - demonstram níveis reduzidos em qualidades como sociabilidade e curiosidade. Em seus estudos, o cientista também atestou que cães com uma aparência atraente tinham um comportamento introvertido e a personalidade difícil. Concentrado nesses aspectos, Svartberg declarou que essas novas características refletem as necessidades dos proprietários.
O que vemos atualmente é que a maioria dos proprietários relata ter escolhido seus cães por causa de sua aparência e docilidade e que quesitos como inteligência foram desconsiderados. Na verdade foi a carinha do bichinho que se tornou decisiva para que eles fossem escolhidos como animais de estimação.
Historicamente essa tendência tem uma explicação interessante. Segundo Lisa Peterson, porta-voz do American Kennel Club e especialista em história canina, até o começo do século 19 a maioria dos cachorros tinham que trabalhar para viver: funções como guias ovelhas, guardar a casa, puxar trenós, caçar eram garantia de ração. Com a Revolução Industrial e a migração em massa do campo para as cidades o cão se tornou livre das obrigações da lida rural e então ele passou a usufruir de mimos, guloseimas e passeios. Transformado em bibelô e símbolo de status, o cão deixou de ser avaliado por sua função, e passou a ser pela aparência.
Essa tendência também se traduz na popularidade dos assim considerados “cães-mala”, como chihuahuas e papillons, que são vistos sendo carregados como acessórios de moda. Celebridades como Paris Hilton, Britney Spears e até o ator Mickey Rourke são frequentemente fotografadas carregando as pequenas criaturas em torno deles.
Para satisfazer essa demanda puramente estética, desde o início do século 20 os criadores foram selecionando os animais que possuíam as características desejáveis, e castrando ou matando os demais. Mas eles acabaram indo longe demais, pois essa busca desenfreada pela variedade e pela beleza acabou levando a vários problemas genéticos: um a cada quatro cachorros carrega algum defeito genético sério.
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Animais
INTELIGÊNCIA X BELEZA
Há mais de dois anos o jornal britânico Telegraph publicou um artigo falando sobre as pesquisas realizadas por estudiosos suecos nas quais foi possível constatar que a agilidade física e mental de algumas raças de cães está diminuindo e sofrendo alterações de comportamento. Por serem escolhidos por causa de sua aparente docilidade e graciosidade e tratados como verdadeiros bibelôs pelos seus donos, os animais apresentaram redução de sua inteligência e capacidade de reação.
Tais informações foram comprovadas pelo Dr. Kenth Svartberg, estudioso da Universidade de Estocolmo, que afirma que essas mudanças ocorram ao longo de algumas gerações caninas e que alteraram o comportamento e as habilidades mentais de raças com pedigree e de cães reprodutores, bem como as suas características físicas. Svartberg examinou 13 mil cães avaliando as mudanças comportamentais em 31 raças diferentes. Ele descobriu que aqueles animais criados de acordo com a aparência - sobretudo os bichinhos que integram shows de exibição de raças e exposições - demonstram níveis reduzidos em qualidades como sociabilidade e curiosidade. Em seus estudos, o cientista também atestou que cães com uma aparência atraente tinham um comportamento introvertido e a personalidade difícil. Concentrado nesses aspectos, Svartberg declarou que essas novas características refletem as necessidades dos proprietários.
O que vemos atualmente é que a maioria dos proprietários relata ter escolhido seus cães por causa de sua aparência e docilidade e que quesitos como inteligência foram desconsiderados. Na verdade foi a carinha do bichinho que se tornou decisiva para que eles fossem escolhidos como animais de estimação.
Historicamente essa tendência tem uma explicação interessante. Segundo Lisa Peterson, porta-voz do American Kennel Club e especialista em história canina, até o começo do século 19 a maioria dos cachorros tinham que trabalhar para viver: funções como guias ovelhas, guardar a casa, puxar trenós, caçar eram garantia de ração. Com a Revolução Industrial e a migração em massa do campo para as cidades o cão se tornou livre das obrigações da lida rural e então ele passou a usufruir de mimos, guloseimas e passeios. Transformado em bibelô e símbolo de status, o cão deixou de ser avaliado por sua função, e passou a ser pela aparência.
Essa tendência também se traduz na popularidade dos assim considerados “cães-mala”, como chihuahuas e papillons, que são vistos sendo carregados como acessórios de moda. Celebridades como Paris Hilton, Britney Spears e até o ator Mickey Rourke são frequentemente fotografadas carregando as pequenas criaturas em torno deles.
Para satisfazer essa demanda puramente estética, desde o início do século 20 os criadores foram selecionando os animais que possuíam as características desejáveis, e castrando ou matando os demais. Mas eles acabaram indo longe demais, pois essa busca desenfreada pela variedade e pela beleza acabou levando a vários problemas genéticos: um a cada quatro cachorros carrega algum defeito genético sério.
Fonte deste artigo:http://semanario.net.br/opiniao_.php?iun=900
Mayra Felício de Lima é Médica Veterinária com completo ambulatório em Fernandópolis, atendendo cães e gatos. E-mail:[email protected]Para ler edições anteriores do Semanário acessehttp://semanario.net.br/edicao_virtual.php
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