Especialistas defendem banimento do uso de animais em experimentos científicos
Thales Tréz e Sérgio Greif
Hoje é possível abolir totalmente o uso de animais em experimentos no ensino e em cosmetologia, concluem especialistas.
Da Redação: Marta Rangel Fotos: Márcia Yamamoto
Sob a coordenação do deputado Feliciano Filho (PEN), autor da lei que proibiu a eutanásia de cães nos centros de controle de zoonoses, entre outras de proteção animal, uma audiência pública lotou o auditório Paulo Kobayashi nesta terça-feira, 29/10. A discussão foi acerca da vivissecção (experimentos com animais), em evidência após o episódio de resgate dos cães do Instituto Royal, no município de São Roque. Feliciano é presidente da comissão antivivisseccionista da Assembleia e integrou a comissão que obteve na Justiça a interdição provisória do instituto.
O encontro reuniu ativistas de um movimento organizado e coeso de defesa do vegetarianismo ético, dos direitos dos animais, do meio ambiente e simpatizantes da causa animal. A mesa dos trabalhos foi composta por especialistas que explicaram as razões da resistência imposta a métodos substitutivos já disponíveis e utilizados em outros países.
O objetivo é manter um movimento pelo banimento total do uso de animais em testes, mas hoje é perfeitamente possível ser abolido o uso de animais em experimentos no ensino e em cosmetologia, concluíram os especialistas.
Não é por amor aos animais
George Guimarães, nutricionista dedicado à pesquisa e à consultoria em nutrição vegetariana, além de ativista e presidente da ONG Veddas, cujas ações vêm ganhando destaque no cenário nacional e internacional, destacou ser importante ressaltar que o que move os ativistas da causa anti vivisseccionista é fazer disso uma prioridade em sua vida. "O ativista não pratica hobby", mas luta por justiça. Guimarães lembra que defender o fim do uso de animais em pesquisa vai além do amor pela espécie e usar essa justificativa diminui a causa. "É uma questão de justiça", disse. "Os animais são seres sencientes e sem condições de escolha por si só. Há métodos alternativos que podem ser utilizados sem sofrimento para esses seres."
Thales Tréz é graduado em Ciências Biológicas (bacharelado e licenciatura) pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrado em Ética Aplicada pela Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica. É também doutor em Educação Científica e Tecnológica pelo Programa de Pós-Graduação Científica e Tecnológica (PPGECT/UFSC). Autor do livro "Instrumento animal: o uso prejudicial de animais no ensino superior" e co-autor do livro: "A verdadeira face da experimentação animal". Ele compôs a mesa e afirmou que para a ciência, nada é imprescindível. "O que pode ser hoje, daqui a 50 anos não mais será", disse.
Segundo Tréz, a tendência inevitável é abolir o uso de animais nas experiências nas salas de aula e, para ele, essa possibilidade é imediata, sendo, todavia, necessário que o aluno seja antes preparado e esclarecido para essa migração. "Essa migração vai humanizar a medicina", avalia.
Tradição versus avanço
A médica cardiologista Odete Miranda, professora da Faculdade de Medicina do ABC " primeira faculdade a abolir o uso de animais nos estudos - garantiu haver vários métodos substitutivos para experimentos em salas de aulas. Miranda fez uma explanação desses métodos e demonstrou com a classificação da Faculdade do ABC no Enad que o nível de ensino não foi prejudicado após a abolição do uso dos animais nas aulas.
De acordo com ela, apesar disso, a resistência ainda persiste para essa substituição e a maioria dos alunos quer os animais de volta às aulas. O corpo docente - ela conta - em sua maioria, desconhece por desinteresse os métodos alternativos e prefere permanecer "na tradição".
Grandes cirurgiões, como Ivo Pitanguy, nunca utilizaram animais em experimentos, lembrou Miranda, que defende uma mudança de alimentação para a prevenção de doenças. "A indústria farmacêutica tem interesse nas doenças", afirmou.
"Sua vida depende de nós"
O último a falar foi Sérgio Greif, biólogo formado pela Unicamp, mestre em Alimentos e Nutrição, com tese em Nutrição vegetariana pela mesma universidade, autor dos livros: "A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo" e "Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável".
Embora o lobby composto pelas indústrias farmacêuticas, universidades, centros de pesquisas, governos, etc, diga que sim, Greif afirmou que a saúde humana não depende da experimentação animal e explicou haver paralelamente outros procedimentos técnicos que proporcionam o avanço da ciência.
Esse lobby, segundo o especialista, investe pesado em marketing disfarçado de pesquisas, e impõe à população a mentira: "sua vida depende de nós", isso porque a indústria sobrevive graças ao lançamento de novas drogas no mercado.
Greig comprovou com dados que diversos resultados benéficos para a ciência não vieram da experimentação animal, mas sim de procedimentos paralelos. Além da diversidade genética que induziria a muitas variações "ratos não são seres humanos em miniaturas", afirmou.
"Males como câncer, Mal de Alzheimer, lesões de coluna, entre outros, em ratos já teriam cura. Esses mesmos métodos aplicados em humanos não obtiveram êxito", exemplificou.
Métodos substitutos
Para o especialista, que assegura que os medicamentos são muito mais importantes para a indústria farmacêutica do que para a população, o modelo animal ainda é muito utilizado pela comunidade científica mais por comodidade do que por necessidade.
Como procedimentos alternativos para a utilização de animais, Greif citou os testes "in vitro", os estudos epidemiológicos, testes clínicos, autópsia e biópsias, a vivissecção não invasiva, modelos, simulações computacionais e modelos matemáticos.
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